sexta-feira, 1 de julho de 2011

a voz de mim

-Calma. Não precisa sentir medo. Senta e me conta tudo, me explica tudo, me fala o que acontece.

-Ah... São os dias. Os dias não rodam e não passam, as coisas não saem do lugar. O pó da mesa de TV está lá há semanas e eu não consigo limpar - Metáfora! É claro que eu consigo limpar – e as coisas estão estranhas. Eu estou seguindo em frente, caminhando conforme a música toca, mas eu vivo numa bossa triste, num jazz calado, numa orquestra sangrando de dor. Eu quero um carnaval, um samba alegre, uma valsa romântica, uma lambada sensual, intrigante. Eu quero mudar de lugar, de roupas, de casa, de gente, de identidade. Eu quero ser uma puta maluca gritando pela augusta sozinha à noite com as narinas brancas. Talvez eu queira um colo pra dormir, simplesmente. Algo em mim não está certo. E de manhã, enquanto me levanto, repito sempre pausadamente: “ Vai passar, vai passar. Isso, esse oco, vai passar”. Ainda não passou... Mas insistente eu digo: “Vai passar”. As coisas são mais fortes quando não estamos sozinhos. Talvez por isso seja tão difícil acreditar que vai passar, que vai passar... Eu me tranquei, sabe?

Hum... Se trancou pra quem e por quê ?

Eu me tranquei pra vida, me tranquei pro mundo, me tranquei pro amor, me tranquei pro medo de ser feliz pra sempre. Por que eu não sei, só sei que eu joguei a chave fora e agora só Deus sabe onde ela foi parar.

-Troca a fechadura. Às vezes é mais simples do que tentar procurar a chave.

-Heim?

-É isso. Tenta parar de procurar. Cadê a chave? Se você mesmo não sabe onde a chave está é porque a chave não existe mais. O que deixou de existir, não aparece, já se transformou em outra coisa, já virou outra vida, já está em um lugar que não pertence mais a você, como uma alma recém chegada ao seu destino final, pronta para outra história. O que sobrou então senão a sua fechadura?

-Heim?

-Você ainda não entendeu? Mas que inferno. Você se trancou pros sentimentos, pra vida, pros amores e jogou a chave fora. A chave é o de menos nisso. O que você precisa mesmo é trocar a fechadura, pra abrir uma nova porta. Você se acomodou nessa idiotice de achar que nada mais entra, que nada mais pode abrir a porta, que você está aí sentado morrendo aos poucos achando que nada mais faz sentido, achando que o mundo parou. Burrice sua! O mundo não parou ainda, e nem vai parar tão cedo. E se você não se mexer pra mudar essa história, o que vai tocar na sua vitrola vai ser pra sempre um sonzinho chato, clichê e desafinado. Se abre pra vida, se mexe, muda essa fechadura. Coloca uma maior, distribua chaves-mestres pro mundo, pra vida, deixe eles abrirem a sua porta, deixa a vida entrar. Essa fechadura velha é muito pequena pra tudo o que existe lá fora e você burramente está perdendo. O dia brilha antes da noite chegar. A lua clareia o céu escuro e você não consegue ver, porque só sabe olhar pra sua realidade chata e pequena. Tantas vezes tanta gente tentou arrombar essa porta lacrada pela sua fraqueza. Tanta gente tentou te ajudar de tantas formas e você, num ato baixo e egoísta pensou “ Estou fechado”. Como se colocasse um aviso de “ Não há vagas”. Se olha agora e veja o que virou. Um pedaço de carne que sobrevive, que só existe porque infelizmente – ao seu ver, infelizmente – ainda respira. Anda pra frente. Acorda ! O seu mundo parou, junto com a sua vida, mas o mundo ainda está aí. Quando você trocar a fechadura e souber que não existe mais chave nenhuma, o mundo vai entrar, a vida vai entrar. Deixa o sol, o céu e lua cumprirem o seu papel. Abra os olhos devagar pra nova realidade que só depende de você. Seja a puta maluca correndo por aí, seja o seu próprio colo pra dormir, mas nunca mais deixe de lado a beleza de ser quem você é. Todo mundo pode, com você não vai ser diferente. Eu sei o que te agrada, eu sei do que você precisa e eu sei até onde você pode chegar. Por isso, se segura em mim, se apóia em mim e deixa que eu te levo comigo. Mas não esqueça que eu só posso te acompanhar até uma parte, eu só posso te ajudar até um momento, porque o resto, amigo, é contigo !

-Poxa vida, quem diria. Deveria te escutar mais vezes. Quem diria que eu soubesse tanto de mim...

domingo, 29 de agosto de 2010

confusões

Eu olhei, durante muito tempo e em silêncio, a sua foto. Mantive-a por muito tempo no porta retratos da minha mesa, na sala. Sentava naquela cadeira marrom, apoiava as pernas na mesinha de centro indiana e podia ficar horas e horas e horas olhando no fundo dos olhos mais lindos que já havia visto. Assim como eu dizia a você, eu pensava comigo, que nunca na minha vida havia visto olhos tão lindos, tão densos, olhos que me faziam ficar em silêncio, como ando ficando ultimamente.
E sentado nesta cadeira, com os pés apoiados nessa mesa,vez ou outra abro a cortina e olho pra rua, vendo a chuva que demora a passar. Caindo leve, consigo ouvir o barulho de cada gota, como se cada gota fosse um passo a mais pra solidão dos dias acumulados da minha existência. Definiria exatamente assim. Minha vida não passa de dias acumulados, em que eu plenamente existo, mas minha alma, torta e amassada, há tempos não existe mais. E como me dói olhar a rua, olhar a lua da janela do meu quarto, andar por aí sem certezas, sem sentimentos. Você levou tudo contigo. Às vezes tenho a sensação de que todas as cores de tudo o que eu já havia visto, hoje estão contigo, longe de mim. Como se cada sorriso que tinha dado estivessem presos na sua mão. Acho que é porque isso que anda difícil sorrir. Sinto como se tudo tivesse apagado mesmo, sabe ?! Tudo anda tão sem graça. Bares, cinemas, zonas, festas, porres. Tudo apagou, minguante como a lua no último dia em que te vi.
Um aperto.
Saudades.
Cama vazia.
Olhos perdidos.
Sem direção.
Caminhando no vazio.
Solidão.
Medo.
Pavor.
Angustia.
A boa e velha nostalgia.
Mas nada pior do que a decepção. Lembro que nos primeiros momentos tinha você como um diamante. Pedra bruta, valiosa. Mas aos poucos, fui vendo que esse diamante era vidro. Falso. Sem valor. Essa foi a decepção maior que já havia sentido. O pior nem é o diamante e seu valor. O pior são as crenças. São as coisas que se firmam na nossa cabeça e que nos faz pensar que isso ou aquilo ou aquilo outro faz a diferença, mas não faz. Nesse mundo de cobras e peçonhas, nada faz sentido. Nada é de verdade. Uma gota de bile ou uma lágrima que escorra de leve, sangrando, cortante, não estão lá. Na dor, nada é real. Muito menos na felicidade. São acasos, são mentiras, são suposições que nos fazem viajar a um momento onde buscamos a felicidade e o sorriso sincero, mas de repente, com um soco do destino, despencamos desse lugar e caímos na realidade. A realidade cruel onde vemos que tudo foi um sonho. Que a única verdade é a dúvida.
Se não houver amor, por qualquer motivo que seja, nunca haverá paz. E eu não digo aquele amor fofinho. Homem mulher. Homem homem. Mulher mulher ( talvez esses últimos os mais difíceis), mas digo qualquer amor. Entre amigos, entre você e uma planta que seja, entre Deus e o inferno. Qualquer tipo de sentimento que te faça erguer a cabeça e seguir em frente, sem saber se o que você está fazendo é certo ou errado.
Talvez haja muita confusão em tudo o que eu penso e em tudo o que eu sinta. Talvez já seja a hora de dormir e parar de pensar em coisas do tipo. Esquecer que algum dia existiu a dor. Esquecer que algum dia houve alguém. Esquecer que em algum momento uma lágrima escorreu e um sentimento murchou. Esquecer que em algum dia eu falei sozinho sobre coisas lindas enquanto você olhava pro lado.
Talvez eu não quisesse ser como eu sou ou quem eu seja. Talvez quisesse ser outro, amar diferente. Mas esse sou eu. É assim que eu penso e é assim que eu amo. E eu sei que um dia eu vou descansar. Eu sei que um dia eu vou deitar e sorrir porque lá no fundo, alguma coisa vai fazer sentido. As coisas não existem. Simplesmente o tato não existe. O olfato não existe. O paladar não existe. As coisas por si só não existem. Nós as fazemos, do jeito que nos é melhor.

Agora chegou a hora de ser feliz.

terça-feira, 29 de junho de 2010

banco.

Era você quem me despia de leve. Era você quem me despia, mordia-me. Era você quem me excitava e passava a língua pelo meu corpo e me arranhava. Carnal e sem sentimento, era você quem me fazia jorrar em prazer e dor. Aquela dor. A dor de sempre, velha dor. Enquanto você trepava e metia eu amava silenciosamente, discretamente. Eu te amava calado e em segredo. Queria mostrar-me forte, atrevido. Queria que você pensasse que eu levava como você levava, mas eu amava.
Enquanto suas pernas ficavam tremulas depois de saciar seus desejos comigo, eu permanecia sentado, olhando seu corpo, branco, forte e delicado ao mesmo tempo. Aos poucos íamos recolhendo as roupas, calados, cansados. Nos despedíamos . Cada um para o seu lado.
No caminho para a minha casa havia uma praça. Num banco, o mesmo banco de sempre, eu me sentava e olhava o sol morrendo aos poucos. Sentia-me o sol virando a noite, apagando a cada minuto que se passava. Eu fechava os meus olhos e sentia o seu perfume passando, sentia o gosto do desejo que saía da sua boca pelas palavras, pelos beijos, pelas mordidas, pela língua. Sentado no banco eu pensava como jogava fora o meu lado mais lindo por você que não se atrevia a falar nem um “ muito obrigado”. Talvez a pior coisa a se ouvir depois de transar com alguém, mas pelo menos era alguma coisa, alguma palavra.
Permanecia imóvel no banco, olhando para as minhas mãos. Apanhava um fósforo, acendia um cigarro e olhava a primeira estrela. Aquele deserto batendo junto ao peito. A idéia de ser parte de um jogo, de uma brincadeira. Eu o amava em segredo, sim, e não o culpo. Se cada amargo da minha vida existe, não é por culpa dele, é por minha. Eu achava que era amor, mas era o oposto. Não existia amor algum em nada que vinha de mim. Não se pode falar em amor se nunca viveu um. Se nem sabe o que é isso. Quer merda é essa? De onde veio?
Sentado no banco me perguntava como seria ser amado por alguém, algum dia. Amar eu sabia o que era, mesmo que em silêncio, mesmo que sozinho.
Eu queria tanto que você crescesse dentro de mim. Queria que você explodisse e me desejasse e me amasse e que cada gemido e cada grito fosse um grito real, de quem goza por prazer e desejo, não por aventura. Era isso o que eu era. Uma aventura. E eu não queria ser, muito pelo contrário. Eu queria que você me desejasse de verdade. Queria que você me esperasse sair do trabalho e fosse comigo até o outro lado da rua sentar num boteco e tomar uma cerveja no fim do dia. Queria que você apanhasse uma flor do chão, num gesto engraçado, e me desse uma florzinha amassada e despetalada, que fosse.
Permanecia sentado no banco. As horas passando, correndo com o vento do inverno que se iniciava naquela mesma noite. Eu acendia outro cigarro, tragava, tragava. Tragava com dor, tragava com ódio. Aos poucos as lágrimas geladas percorriam meu roto até salgar minha boca. Era a dor que me fazia chorar. Eu queria entender porque você fazia aquilo comigo e porque eu permitia aquilo comigo mesmo. Não era justo.
Eu estava decidido, sentado no banco, que nunca mais me entregaria assim. Jamais. Eu decidi que jamais encostaria meu corpo no seu e que jamais diria seu nome, pensaria em seu nome ou escreveria seu nome. Não queria. Definitivamente não queria.
Levantei-me do banco e desci a pequena escada de 4 degraus. Ao último passo você me ligava. Eu atendia, dava meia volta e me entregaria. Te amaria. Te olharia dormir em silêncio, até o próximo dia, onde eu sentaria no banco e morreria junto ao sol.

quarta-feira, 17 de março de 2010

De tão grande o sentimento, nao cabe um titulo sequer

Era estranho e triste. Lindo, estranho e triste. Um dia você tão perto, no outro você já morto. Foi um abraço eterno que selou minha alma na sua. Aquele abraço, naquela noite, que até hoje sinto, guardou a sua alma dentro da minha. Meus passos seguiram um rumo, os seus passos, outro. Distante de mim, distante de você, mantemo-nos.
Entramo-nos um no outro, com igual velocidade em que criamos um vácuo num sentimento findado ou não. Nunca se sabe qual tipo de final pode ter uma história que mal começou. Talvez já seja findado, talvez o fim seja inesperado ou distante demais para ser calculado. Só sei que hoje, sentado nessa mesma cadeira em que escrevi tantas coisas, hoje bateu um coração triste. A sensação de ter sobrado apenas uma foto e um porta – retrato quebrado. Nas minhas mãos um cigarro, um toque leve de adeus, um sorriso falso no rosto e a mentira de acordar todos os dias feliz, pensando em como seria se talvez desse certo um dia. E o pior é exatamente essa dúvida. Saber se algum dia vai ser. Enquanto isso, permaneço preso ao seu coração, onde me encontro diferentemente solto.
Aqui sentado, pareço esperar por algum dia poder ter de volta aquele velho abraço que ficou naquela noite. Já antiga noite. Passadas horas que passaram como uma eternidade. Seu coração mais acelerado que o normal, suas mãos tão fortes, seu sorriso tímido, escondido no escuro. Suas pernas descobertas. Lembro-me de cada detalhe, de cada pedaço de você, perfeitamente. Cada objeto, cada frase, cada movimento. Lembro como em uma fotografia.
Um dia eu prometi fazer alguém feliz de fato, e sem querer escolhi você. Jamais vou saber se tenho tanta força pra isso. Despertar momentos especiais não é pra qualquer um. Levar você até um lugar alto, verde, pegar o momento exato do melhor pôr – do – sol e falar bem baixinho “ Eu te amo”. Encontrar uma flor sólida no chão frio de asfalto e lembrar de você, como se fosse um pingo de luz nos olhos sem esperanças que carrego agora. Compor um poema, escrever cartas, fazer loucuras, talvez. Não sou de loucuras, mas as faria. Faria porque seria para você. Sei que essas promessas eu nunca fiz. Mas as faço agora. E eu prometo que um dia sorriremos juntos, com as pernas cruzadas em uma cama num apartamento por aí.
Um dia o sonho repetitivo de minhas noites tornar-se-á realidade. Minha alma vai outra vez respirar a sua e brindar à felicidade eterna de quem amou só por um toque, só por um momento de um dia findado.
“Preciso não dormirAté se consumarO tempo da gente.Preciso conduzirUm tempo de te amar,Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrirNo último momentoUm tempo que refaz o que desfez,Que recolhe todo sentimentoE bota no corpo uma outra vez.
Prometo te quererAté o amor cairDoente, doente...Prefiro, então, partirA tempo de poderA gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,Te encontro, com certezaTalvez num tempo da delicadeza,Onde não diremos nada;Nada aconteceu.Apenas seguireiComo encantado ao lado teu.”

domingo, 15 de novembro de 2009

" Me ensina a não andar com os pés no chão..."

Sozinho. É assim que eu me sinto. Me sinto sozinho. Sozinho como se estivesse jogado no fundo de um baú. Sozinho, como se fosse uma foto de polaróide, apagando pouco a pouco, sendo lembranças, ou nem isso. Às vezes me pego segurando a minha própria mão. Me pego acariciando os meus cabelos, até dormir. Me pego cantando músicas, como se estivesse preparando a mim mesmo para sonhos novos, felizes. Queria viver num sonho. Como eu queria entrar dentro de um dia feliz que eu tive há muito tempo atrás. Entrar nesse dia e permanecer lá até cansar de ser feliz. Depois eu volto pra minha vidinha corrida de sempre. Queria poder olhar bem fundo pra você outra vez. Passar um domingo todo reclamando do calor e tomando sorvete de duas bolas e aquela calda de chocolate.
Exijo tanto do mundo. Exijo tanto da minha alma e de mim, mas nunca tenho forças pra andar até o ponto final. Acho que sou louco quando me pego sonhando acordado com um mundo ideal sabendo que esse mundo só pertence a quem tem um coração de fato. Eu não tenho mais nada. Só uma casca oca e seca. Não pulsa, não vive, não faz circular em mim o sangue quente. Está frio;morto e enterrado.
Eu era. Sempre fui. Mas eu nunca serei. Acho que agora eu sou passado. O presente não me serve, o futuro não existe. A única coisa que posso ter em mãos é o passado. Antes eu tinha você pertinho. Todas as vezes que eu pensava assim, você me dava a esperança outra vez. Mesmo quando você só olhava pra mim, sem falar nada. Mesmo quando você me ligava e não era pra falar comigo. Todas as vezes em que eu te via acordando pra tomar café da tarde, você me dava a esperança outra vez. Você me ajudava a caminhar, você me ajudava a ver as coisas com um olhar mais claro, mais sensível. Agora, onde estão seus olhos? Queria saber para assim encontrar os meus.
Me sinto sozinho. Sozinho como se fosse a última folha a cair de uma árvore no outono. Mal vejo a hora de despencar desse galho gélido e dolorido em que eu estou preso. Essa árvore morta que a vida colocou no meu caminho.
Me sinto sozinho. Sozinho como a primeira flor que desabrocha na primavera. Mas há uma diferença entre a folha seca que espera ansiosa pra despencar. Há uma diferença entre a flor que espera sozinha a primavera acontecer. A folha cai e encontra o seu caminho. As outra flores desabrocham e se encontram em paz. Já eu, não despenco do que me prende. Eu não encontro a minha flor. Agora, eu perdi o meu jardim, as minhas estações, eu perdi a graça, eu perdi você.
Há uma coisa aqui dentro que habita desde o dia em que você se foi. Essa coisa é você. Você me dói demais. E acho que nesse exato momento, o que mais me mantém vivo é a sua vida em mim.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Avesso

Não. Não diga mais nada. Nem que quer, nem que esquece, nem que ama nem que nada.
Feche e penetre o silêncio em meus ouvidos, eternamente.
Deixe-me escutar apenas o som do seu nada alegre e triste.
Seja esse silêncio puro e agradável, que não quebra o ruído calmo e mágico das flores se abrindo, acolhendo as doces saqueadoras de mel .
Se a sua voz estragar o lento som do vento nos galhos do jardim, te desejarei o eterno fim, bem longe. Longe de mim.
Eu quando eu acordar, caso você esteja ao meu lado, não suspire, não respire, não se mova. Não estrague meu momento de sentir meus ossos esticando, meus músculos acordando e os leves raios de sol penetrando no quarto escuro, tomado de sonhos e desejos nunca findados.
Há tempos que você não é mais a coisa mais linda da minha vida.
Faz tempo que não sinto em você a pureza de quando vejo uma fêmea lambendo o seu filhote. Os teus olhos não se tornam mais estrelas brilhantes na face do seu céu. Tornam-se apenas olhos, atrás de vidros.
Quando eu comparava seus cabelos ao toque macio da seda não percebia que seus cabelos são apenas cabelos, fracos e secos, como qualquer cabelo.
Eu te punha em altos andares. Via você como a mais mágica canção composta, o mais lindo poema. Via o seu sorriso como o meu guia. Hoje, vejo o seu sorriso como mais um sorriso amarelado de cigarros e mentiras.
Não pense que te direi adeus, até nunca.
Não pense que guardarei de ti um lindo sonho, uma magia.
Também não pense que te desejarei o mal, a morte.
Seja apensa o seu avesso, para ser algum agrado
Eu só desejo o seu silêncio. Seja só o meu silêncio para que continues sendo o que sempre foi
Um sonho longe, distante, impossível de ser alcançado.
Será melhor assim.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A luz apagou...

Você se foi. Se foi dos meus braços, dos meus olhos, se foi para sempre.
Nunca mais vou poder te abraçar, afofar seu cabelinho loiro e ouvir você cantando desafinado e lindo sempre a mesma música, enquanto faz o melhor feijão de todos.

Como será que eu posso expressar todo o meu amor por você ?
Como eu posso expressar essa dor sem limites, essa dor traiçoeira e maldita que apunhala, que machuca lá no fundo ?
Como eu posso entender ?
Como eu fui perder você ?
E agora, como vai ser ?
Só sei que eu estou decidido a te dedicar todos os meus dias. Tudo o que eu conseguir, tudo o que eu conquistar, todas as minhas alegrias, serão para e por você.
Sinto em meu peito um buraco escuro e frio. Mas ao mesmo tempo sinto em minha alma o calor da sua. Em meu sorriso apagado, surge o seu sorriso contagiante e lindo, seu sorriso que era sempre sincero e marcante. Em meus olhos cheios de lágrimas, seus lindos olhos azuis. Azulzinhos que, como um acordo com seu sorriso, se fechavam e sua gargalhada corria solta pelo mundo. Como eu gostava de te ver sorrindo. E dentro do meu coração fraco, agora palpita o seu coração, forte, enorme, alegre. Dentro dos meus passos sem destino agora habitam os seus passos firmes e fortes. Seus passos decididos, que corriam pelo seu jardim, que corriam pela farmácia e pela padaria e pela vida. Sua mágica e incrível vida.
Como foi difícil te ver dormindo. Te ver deitadinha lá. Que aperto.
Sua mágica e incrível vida terminou. Parte dela. Mas sua vida continua dentro de mim.
Te espero em meus sonhos.

E, como me dói dizer isso só agora, pois a vergonha me impossibilitou de dizer isso, mas sempre me foi fiel e persistente esse sentimento: eu amo você.