domingo, 29 de agosto de 2010

confusões

Eu olhei, durante muito tempo e em silêncio, a sua foto. Mantive-a por muito tempo no porta retratos da minha mesa, na sala. Sentava naquela cadeira marrom, apoiava as pernas na mesinha de centro indiana e podia ficar horas e horas e horas olhando no fundo dos olhos mais lindos que já havia visto. Assim como eu dizia a você, eu pensava comigo, que nunca na minha vida havia visto olhos tão lindos, tão densos, olhos que me faziam ficar em silêncio, como ando ficando ultimamente.
E sentado nesta cadeira, com os pés apoiados nessa mesa,vez ou outra abro a cortina e olho pra rua, vendo a chuva que demora a passar. Caindo leve, consigo ouvir o barulho de cada gota, como se cada gota fosse um passo a mais pra solidão dos dias acumulados da minha existência. Definiria exatamente assim. Minha vida não passa de dias acumulados, em que eu plenamente existo, mas minha alma, torta e amassada, há tempos não existe mais. E como me dói olhar a rua, olhar a lua da janela do meu quarto, andar por aí sem certezas, sem sentimentos. Você levou tudo contigo. Às vezes tenho a sensação de que todas as cores de tudo o que eu já havia visto, hoje estão contigo, longe de mim. Como se cada sorriso que tinha dado estivessem presos na sua mão. Acho que é porque isso que anda difícil sorrir. Sinto como se tudo tivesse apagado mesmo, sabe ?! Tudo anda tão sem graça. Bares, cinemas, zonas, festas, porres. Tudo apagou, minguante como a lua no último dia em que te vi.
Um aperto.
Saudades.
Cama vazia.
Olhos perdidos.
Sem direção.
Caminhando no vazio.
Solidão.
Medo.
Pavor.
Angustia.
A boa e velha nostalgia.
Mas nada pior do que a decepção. Lembro que nos primeiros momentos tinha você como um diamante. Pedra bruta, valiosa. Mas aos poucos, fui vendo que esse diamante era vidro. Falso. Sem valor. Essa foi a decepção maior que já havia sentido. O pior nem é o diamante e seu valor. O pior são as crenças. São as coisas que se firmam na nossa cabeça e que nos faz pensar que isso ou aquilo ou aquilo outro faz a diferença, mas não faz. Nesse mundo de cobras e peçonhas, nada faz sentido. Nada é de verdade. Uma gota de bile ou uma lágrima que escorra de leve, sangrando, cortante, não estão lá. Na dor, nada é real. Muito menos na felicidade. São acasos, são mentiras, são suposições que nos fazem viajar a um momento onde buscamos a felicidade e o sorriso sincero, mas de repente, com um soco do destino, despencamos desse lugar e caímos na realidade. A realidade cruel onde vemos que tudo foi um sonho. Que a única verdade é a dúvida.
Se não houver amor, por qualquer motivo que seja, nunca haverá paz. E eu não digo aquele amor fofinho. Homem mulher. Homem homem. Mulher mulher ( talvez esses últimos os mais difíceis), mas digo qualquer amor. Entre amigos, entre você e uma planta que seja, entre Deus e o inferno. Qualquer tipo de sentimento que te faça erguer a cabeça e seguir em frente, sem saber se o que você está fazendo é certo ou errado.
Talvez haja muita confusão em tudo o que eu penso e em tudo o que eu sinta. Talvez já seja a hora de dormir e parar de pensar em coisas do tipo. Esquecer que algum dia existiu a dor. Esquecer que algum dia houve alguém. Esquecer que em algum momento uma lágrima escorreu e um sentimento murchou. Esquecer que em algum dia eu falei sozinho sobre coisas lindas enquanto você olhava pro lado.
Talvez eu não quisesse ser como eu sou ou quem eu seja. Talvez quisesse ser outro, amar diferente. Mas esse sou eu. É assim que eu penso e é assim que eu amo. E eu sei que um dia eu vou descansar. Eu sei que um dia eu vou deitar e sorrir porque lá no fundo, alguma coisa vai fazer sentido. As coisas não existem. Simplesmente o tato não existe. O olfato não existe. O paladar não existe. As coisas por si só não existem. Nós as fazemos, do jeito que nos é melhor.

Agora chegou a hora de ser feliz.